Estou sentada no "sítio do costume", a luz entra ténue pela janela e o sol espreita por entre as núvens cinzentas, são 17:02 e as folhas das árvores caem lá fora. Faz ano e meio que me sento aqui, ligo as velas com aroma a baunilha e acendo as luzes de presença do parapeito da janela. Ano e meio de mudança, de emoções, de conquistas, de luta, de esforço, de novas experiências. Faz ano e meio que saí da minha zona de conforto em busca de algo, não sabia bem o que aguardar, não sabia bem qual o caminho a seguir nem tão pouco sabia o que seria esse algo...era algo abstracto, algo que completaria a lacuna que eu sentia em mim. E que lacuna... Na minha cabeça persistia a dúvida mas estava segura de que tinha de arriscar, de que tinha de me aventurar.
2017 foi um ano instável, um ano emocionalmente forte, onde me debati com várias questões mentais. Tudo girava em torno da toma de importantes decisões e foi no final desse ano que deparei-me com a toma de uma das decisões mais importantes que fiz até agora - sair do meu país.
Sempre fui aquele tipo de pessoa "anti-emigrar", negava qualquer tipo de conversa relacionada com este tema. Talvez porque, lá bem no fundo, sabia que havia uma hipótese remota de, um dia, ter de vir a sair da tão apaziguante zona de conforto. Mas eu refugiava-me nos 90% dos meus pensamentos que diziam que isso não iria acontecer.
Um dia li, por aí, naquelas frases que toda a gente partilha mas que ninguém perde 1 minuto a reflectir sobre elas, que as nossas escolhas dependem somente de nós. Quando me deparei com esta frase decidi debruçar a minha atenção sobre a mesma. A meu ver há algo na frase que não bate certo. Se por um lado, somos responsáveis pelas nossas escolhas, por outro, há certos factores externos que vão influenciar as mesmas. Dou-vos um simples exemplo: Estamos em pleno Verão. Os dias têm estado com uma temperatura incrível e as praias estão replectas de gente. Antes de dormir, mentalizo as peças de roupa que quero vestir no dia seguinte. São 8 da manhã, acordo com o barulho da chuva, a temperatura decresceu 7 graus. Creio que não preciso de dizer mais nada...
Estávamos em 2017 e era Inverno, depois de meio ano a viver no sul do país, regressei à minha cidade natal, o meu Porto. Mas não regressei para ficar...
O dia chegou. A decisão foi tomada. Confesso que o tempo que demorei para me decidir foi menor do que aquele que expectava. Quando toca a decisões, o meu cérebro age com rapidez, e uma vez decidida, não volto atrás. Óbvio que não me atiro de cabeça quando toca a questões pertinentes mas, tal como expliquei, não podemos descorar os factores externos e, estes, empurravam-me num jeito súbtil mas forçado para um caminho, no qual, a luz ao fundo do túnel era distante e intermitente.